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segunda-feira, 21 de maio de 2012

Mais amor, por favor.

Meu coração transborda de tanto amor que mal consigo conter as lágrimas que escorrem pelo meu rosto. Algumas experiências fazem a vida valer a pena e hoje vivemos uma dessas experiências.

O Egito tem sido uma experiência tão contraditória, quanto o deserto do Sahara e o vale fértil do Nilo. Desde que chegamos aqui, há quase um mês, as emoções me levaram da raiva ao infinito amor, as vezes no mesmo dia, viajamos do mais remoto passado da humanidade até a contemporaneidade de nossos dias, do Cairo a península do Sinai, do Sahara ao delta do Nilo.

Mergulhamos profundamente na vida dos faraos pelos grandiosos templos e tumbas, vivemos a rotina do islã e entendemos mais seu significado e princípios, exploramos os bastidores da revolução política-social encontrando pessoas e sentindo a magia do movimento por trás das cenas, experimentamos as condições extremas do deserto, a abundância da vida navegando pelo Nilo e a incrível beleza do mar vermelho. Vivemos o pior do turismo e o mais extraordinário da hospitalidade egípcia.

A parte histórica do Egito é impressionante e de muito valor para a humanidade, mas isso foi o passado desse país e não o que ele é hoje. Infelizmente a maior parte das pessoas chega ao Egito, vê a parte histórica e vai embora, e assim não dá para experimentar o que o Egito realmente é. Talvez isso aconteça em parte porque muitas agências alarmam as pessoas com todos os 'perigos' que o Egito tem e recomendam que façam tudo com pacotes e guias. Isso também aconteceu com a gente, mas... resolvemos arriscar a fazer diferente e valeu muito a pena.

O que encontramos foi um país de pessoas alegres e hospitaleiras, que adoram receber turistas, e que estão lutando por um país democrático e um futuro melhor para seus filhos. Um povo que acredita e honra Alah acima de tudo, e por outro lado, que sobrevive, desde tempos remotos, de seu turismo e até por isso vem praticando a arte de enganar turistas há milênios.

Após a revolução, há mais de dois anos, a vida aqui não tem sido fácil, a luta pela democracia tem sido vitoriosa em alguns aspectos, mais ainda longe da glória. A maior parte dos egípcios tem sofrido mais do que prosperado e com a proximidade das eleições a tensão aumenta com a incerteza do futuro, um futuro que estão determinados a alcançar custe o que custar.

E por tudo isso, um país que recebia milhões de turistas todo ano, nesses últimos dois anos tem recebido bem poucos, e os poucos viajantes independentes acabam sofrendo o impacto da escassez, que tornou a sobrevivência de muitos que dependiam do turismo, bem mais desafiadora.

Conosco não foi diferente, sentimos esse impacto desde que chegamos, uma mistura de tristeza e compaixão pela situação, e por outro lado raiva pelas mentiras e explorações a que fomos submetidos. Todos ao nosso redor querem tirar algum proveito da nossa presença, seja vendendo coisas, serviços ou ganhando comissão por informações, fotos ou indicações, nos deixando numa corda bamba entre seguir abertos as pessoas e confiando, e fechar completamente, desconfiando de todos que se aproximam.

Já vivemos os dois extremos e agora estamos em busca da inocência sem ingenuidade, o caminho do meio, mas não tem sido fácil conviver com tantas máscaras e interesses que ferem meus princípios mais fundamentais.

E a contradição egípcia foi se acentuando a medida que mergulhamos mais profundamente na cultura, conhecendo pessoas especiais que nos acolheram genuinamente, mostrando o lado hospitaleiro dos egípcios e convivendo com o mundo do turismo.

Voltando para Luxor, estávamos nos preparando para partir e resolvemos enviar algumas coisas para o Brasil para esvaziar um pouco a mochila, mas no correio de Luxor nossa experiência foi igual a de uma loja de souvinir, uma fila de egípcios e nós fomos convidado a entrar, sentar e até chá nos ofereceram. Algo 'cheirava mal', perguntei o preço algumas vezes sem resposta, nos ajudaram a embalar todas as coisas, assim como fazem na loja quando perguntamos o preço de algo, o que faz parte da pressão final para a compra. E depois de tudo pronto nos disseram um preço três vezes maior do que nos tinham dito há dois dias.

Que triste que nem no correio podemos confiar nesse país, pensei, não surpresa, mas decepcionada, confesso. Ele negociou o preço com a gente, mas decidimos ir embora por princípio. Não contente, ele veio correndo atrás de nós para dizer que havia se enganado e o preço era outro, ainda menor, o real valor.

Com um sentimento de impotência, frustração e raiva, decidimos comer para esfriar a cabeça e pensar o que fazer, nesse momento pedi a Deus, com todo meu coração, que encontrássemos alguém em quem pudessemos confiar.

Não muito mais tarde recebemos uma mensagem de Hamedi, um rapaz de 20 anos que mora com sua amável família e trabalha vendendo livros dos templos no Vale dos reis, um dos lugares turísticos aqui de Luxor, onde o conhecemos há dois dias. Ele não pode terminar seus estudos de colégio, porque precisou trabalhar para ajudar sua família, conhecendo a dureza de uma vida pobre desde menino, e mesmo assim fez a escolha de permanecer com o coração puro, se destacando no cenário turístico egípcio por sua inocência, honestidade e bondade.

Quando o conhecemos em meio a muitos vendedores no Vale dos reis, mesmo não interessados em seus livros, ele se disponibilizou a nos ajudar a encontrar a trilha na montanha que procurávamos. Mas nós, calejados da malandragem egípcia, dissemos não a princípio. Olhando para trás, fico tão feliz em lembrar que vi algo diferente nele e nos abrimos para conhecê-lo. A forma como cuidou de nós para que não pegássemos o caminho errado, porque estava genuinamente querendo ajudar, sem aceitar nenhum dinheiro em troca, me tocou. Cena rara, pessoa rara.

Ele nos convidou para conhecer seu vilarejo e sua família e nós o convidamos para passear de Felucca no pôr-do-sol, um barco a vela usado aqui desde a época dos faraós, nós topamos e ele topou. :)

Num vilarejo pequenino e simples, com plantações de banana, manga e trigo, próximo de onde estamos hospedados, chegamos a uma casa simples de barro, decorada por dentro com tons delicados de rosa e fotos de paisagens. Ele nos apresenta sua amorosa e tímida mãe, Najad, sua encantadora irmã Hendi, que está terminando seus estudos em comércio e um de seus dois irmãos, que está acabando seu serviço no exército egípcio.

Apesar de não falarem quase inglês, conversamos por horas e eles abriram não só as portas de sua casa com toda alegria, amor e hospitalidade do mundo, mas também as portas de seus corações.

Compartilhamos fotos de família, conversamos sobre a vida, sobre o governo, sobre o Brasil e nossa viagem, numa conversa simples e gostosa, onde as palavras foram o menos importante. O amor e a alegria de estar juntos foi crescendo enquanto tomávamos chá, e quando íamos embora, ela nos preparou um jantar com todo cuidado e amor e me deu um abraço tão apertado que me fez derrubar lágrimas, lágrimas de amor.

No seio de sua família deixei um pedaço de meu coração, que ficou transbordando de amor e carinho por essa querida família que não só nutriu nossos corpos com seu alimento, mas principalmente nossa alma com seu amor. E nesse dia de contradições, as contradições do Egito, de novo me dei conta da beleza da inocência e da presença de Deus, que respondeu da maneira mais linda e inesperada ao meu chamado.

Conhecer essa família foi conhecer o verdadeiro Egito, aquele por trás de todas as máscaras que vimos e o mais precioso que levo daqui.

As contradições geram movimento, dão vida e significado aos opostos e assim aprendemos a valorizar tudo aquilo que vivemos. E o amor, ah, o amor, tudo supera, vence qualquer batalha e derrete a tudo que alcança, derreteu toda raiva que senti e fez tudo valer a pena.

Ele cada vez mais me parece a melhor e mais poderosa solução que para os problemas que enfrentamos no mundo, nos permite estar vulneráveis e fortes, nos permite tirar as máscaras e encontrar com nós mesmos e com os outros num lugar de verdade que transcende qualquer palavra, raça ou religião.

 

O que mais posso dizer?

Mais amor, por favor.

Narjara

sexta-feira, 18 de maio de 2012

Para Inglês Ver

Mais uma viagem de ônibus. As longas viagens por algum motivo me levam para um espaço reflexivo, e as vezes a reflexão pede para ser escrita. Além do mais quero dar uma contribuição, uma pitadinha do meu tempero, em meio a enxurrada de inspiração da Narjara (um dia ela ainda vai escrever um livro). Dessa vez a paisagem é bastante diferente da ultima vez que escrevi. Começamos nos esgueirando por um labirinto de concreto, viadutos e prédios. Carros e pedestres em um balé frenético, em ruas engarrafadas em meio a uma sinfonia de buzinas. Estamos saindo do Cairo, no Egito, a caminho de um oásis no deserto chamado Baharia.


 

Essa é uma região com uma rica tradição cultural e uma história milenar. O contraste entre o Egito e os outro países da Africa que passamos é forte. Claramente o país é mais desenvolvido economicamente, o Cairo uma metrópole cosmopolita e caótica. Um detalhe me chamou a atenção: na nossa jornada da Africa do Sul até o Egito, passando pelo Zimbabwe, Kenya e Tanzania, os únicos lugares onde vimos McDonald's foram justamente nesse dois extremos, em Johannesburg e no Cairo. Os M's amarelos formando um parênteses do mundo globalizado e americanizado, ao sul e ao norte, em torno de um "buraco negro" africano, ou um "Dark Star" como Paul Theroux chama essa terra perdida no excelente livro que estou lendo.

 

Para mim esse "buraco negro" é um grande exemplo de como o nosso atual modelo de desenvolvimento pode falhar. Um continente inteiro, o berço da humanidade, onde o ser humano viveu por milênios em culturas tribais em equilíbrio com o seu meio natural, foi forçado violentamente pelo expansionismo imperialista e colonialista a entrar na corrida maluca do jogo econômico. Claro, a vida tribal era dura, como pudemos experienciar algumas vezes na nossa jornada, mas certamente não se precisava discutir "sustentabilidade". Na primeira metade do século vinte o colonialismo até parecia um caminhos promissor. Mas assim que o movimento nacionalista foi levando os países africanos a independência, a partir da década de 60, o que se seguiu foi uma seqüência de catástrofes pelas quais a África ficou famosa. Alguém lembra da frase surreal que se repetia na mídia internacional, ao mostrar os sobreviventes da fome e dos genocídios: "e esses são os que tiveram sorte"?

 

Hoje nesse "buraco negro", no qual vivem quase um bilhão de pessoas, temos cidades inchando mais e mais, parecendo grandes favelas, em meio a áreas rurais, nas quais a natureza era exuberante, mas que agora não passam de grandes campos desmatados. As pessoas, com sua rica cultura tradicional fragmentada pelo colonialismo, muitas vezes vagam perdidas em busca de sentido, apesar de que algumas ainda expressam com orgulho a beleza das suas raízes. Ao percorrer essas paisagens, de vez enquanto encontramos os parques nacionais, pedaços de terra não muito grandes, cercados com seus leões e girafas, para que os turistas com suas bazuca fotográficas, possam ter uma "verdadeira experiência da África". As crianças descalças e empoiradas, correndo aos montes pelas vilas à beira da estrada são normalmente ignoradas. Bom, se isso não é um exemplo de falha de um modelo de desenvolvimento, não sei o que é. Onde mesmo queremos chegar com essa corrida maluca?

 

Devolta ao ônibus, a paisagem mudou bastante. Pela janela não vejo nada além de um mar alaranjado de areia até o horizonte. A mudança da selva de concreto para a o mar se areia foi gradual... Primeiro passamos por algumas plantações e coqueiros, ainda no vale do Nilo, em meio a casas e pequenos prédios. Depois a areia começa a aparecer, ainda com casas, muros e torres de alta tenção visíveis, até que finalmente o deserto se torna onipresente, cortado apenas pela faixa de asfalto que seguimos até o infinito.

 

Pegar esse ônibus também se mostrou um aprendizado interessante. Chegamos de manhã cedo na "Cairo Gateway Station", um moderno terminal de ônibus, bastante organizado, não muito diferente da rodoviária do Tietê em São Paulo. Incomparável com qualquer um dos pátios a céu aberto, cheios de lixo e vendedores ambulantes, que são as "rodoviárias" nas cidades africanas. Chegamos a nosso portão de embarque e entramos no ônibus relativamente novo, apesar de meio sujo. Estava surpreendentemente vazio. Além de nós havia mais três estrangeiras acompanhadas de uma guia, e apenas dois locais com roupa típica (bata longa e turbate). A Narjara até se perguntou como a companhia de ônibus não ficava no prejuízo assim.

 

O ônibus saiu da rodoviária e não demorou muito para termos a nossa resposta. Demos algumas voltas pelo transito anárquico - no Cairo, com seus 20 milhões de habitantes, não há semáforos nem faixas de pedestre. Logo o motorista manobrou em apertadas ruazinhas em baixo de um viaduto. Ao lado vimos um estacionamento de vans, e em meio a vendedores de rua e guiches em barraquinhas, com o viaduto como teto, estava a verdadeira rodoviária. Estacionamos em meio a bagunça, ao som de buzinas e pessoas gritando. Logo o ônibus estava cheio de Egipsios e seguimos novamente em direção ao deserto.

 


Depois de navegar por cinco horas no mar de areia, chegar no oásis foi um experiência curiosa. Claro que a imagem romântica que vemos nos filmes não é a realidade. Baharia é uma vale rochoso no meio do Sahara, que por ser mais baixo acumula a pouca água subterrânea que existe na região, nutrindo uma esparça vegetação, principalmente de coqueiros. A milênios seres humanos habitam esse lugar, e hoje quase 30 mil pessoas vivem aqui. A sua "capital", chamada Bawiti, é uma pequena vila rural, com casas de alvenaria simples, nada atraente. Após deixar as nossas mochilas na pousadinha, mais uma espelunca por 10 dólares, fomos correndo para nos refrescar em uma das famosas nascentes de águas termais. A nossa fantasia bucólica de cachoeiras e lagos verdejantes foi demolida por uma enorme bomba d'água roncando, cuspindo água por um grosso cano de metal. Surpresa! A mais de 10 anos a água rasa na região acabou, e o governo instalou antigas bombas de petróleo para puxar água a mais de 1000m de profundidade. Toda a agricultura e a vida no oásis hoje depende dessas engenhocas. Nunca tive uma visão tão clara da água como um recurso não renovável, mas conversando com os locais, ninguém parece se dar conta de que essa água "petrolífera" também irá acabar um dia... um oásis a menos na face da terra. Um curiosos microcosmo da situação global em que nos encontramos hoje.

 

Mas não consegui tirar a rodoviária sob o viaduto da cabeça. Fiquei refletindo para que serve então a chique e cara estação de ônibus nova? Apenas meia duzia de turistas pegou o ônibus lá! A famosa expressão brasileira "para inglês ver", ficou ainda mais clara para mim, com um sentido quase literal aqui. As pessoas locais me pareceram bastante satisfeitas com a rodoviária em baixo do viaduto, e o sistema parece funcionar bem. Mas o Egito sendo um pais bastante turístico, parece precisar de estação para os "inglêses". O mesmo acontece com os trens, que tem vagões especiais. Não que eu tenha algo contra a nova estação, mas esse fato curioso me fez divagar.

 

Isso me levou de volta a reflexão sobre o colonialismo, e mais ainda sobre processo que está por traz. Se olharmos um pouco mais fundo, além da visão simplista e dualista freqüente entre ativistas sociais menos informados, que enxerga os "imperialistas ocidentais do mal", vemos que em sua maioria os colonizadores acreditavam que estavam realmente fazendo o bem. Motivados pela moral cristã, estavam levando os avanços da civilização e salvando os selvagens das trevas. Realmente acredito que além dos interesses econômicos expancionistas, existia uma certa boa intensão por traz da colonização, e que a recente história da África não se fez apenas de perversa exploração. Mas como muitos dos nossos problemas hoje, o perigo esta na visão unilateral, onde os colonizadores europeus enxergavam apenas a sua realidade, que naturalmente viam como boa. Na falta de um diálogo verdadeiro, não conseguiam se colocar no sapato do outro. Não enxergavam qual era a realidade dos nativos, e o que eles viam como bom. Será mesmo que os africanos em suas tribos queriam deixar a sua vida de subsistência para ganhar dinheiro e pagar impostos? Alguém perguntou para eles?

 

Quanta energia investimos na corrida maluca do desenvolvimento econômico, apenas para inglês ver, sem significado real para quem está investindo? O que é realmente necessário para sermos felizes? Lembro dos muitos agricultores familiares e moradores de vilarejos que conhecemos em nossas andanças, que em sua simplicidade muitas vezes me pareceram mais felizes que os estressados urbanóides aprisionados na corrida maluca. Mas a pergunta que mais me persegue é: Quantas vezes estou eu no papel do "inglês", achando que tenho a solução e a resposta para os outros, e com a maior das boas intenções, quero impor a minha verdade sobre o mundo?!?

 

Thomas

9 de Maio de 2012

 

 

 

 

segunda-feira, 7 de maio de 2012

O movimento da vida

A vida surge do movimento do universo, assim como o movimento surge da vida, um não existe sem o outro

o movimento alimenta a vida e a vida nutre o movimento criando a si própria

o que é vivo está em constante movimento, por vezes invisíveis aos olhos, mas quando o movimento cessa, a vida se esvai, como a flor que murcha ou um corpo que morre

a água de um rio brota da nascente e segue para o mar, num constante movimento que oxigena e renova suas águas possibitando a vida, e quando a água pára, 'apodrece' e já não mais possível se faz a vida, assim é a nossa vida

a energia que flui pelo nosso corpo é como a água de um rio em constante movimento, quando nela surge um bloqueio, seja por uma emoção que não deixamos ir, ou um ressentimento que cultivamos, adoecemos do corpo ou da mente e um pouco de nossa vitalidade se esvai

assim como o rio, nossa vida vai fluindo do nascimento até sua dissolução no mar do universo

e no caminho vai tomando várias formas, diferentes cores e assim se renova e evolui, mas nunca pára

e o que mantém o fluxo da vida em nossos corpos é o nosso espírito que se manifesta pelo coração

não o coração órgão físico, mas o coração sutil que como o físico bombeia sangue, esse bombeia o fluxo da vida animando nossos corpos pelo calor de seu amor manifesto

amor além do romântico, amor que verdadeiramente vê além de si, que é capaz de amar sem distinção, que tudo compreende sem julgar, que é capaz de enxergar os sinais mais sútis e manifestar a inteligência de nossa intuição quando silenciamos

o conhecimento via razão nos guia até certo ponto da evolução, mas a partir desse ponto só amor é capaz de alcançar conhecimento que a razão jamais compreenderá 

Narjara

 

Charles

Fomos visitar uma pequena cidade na Tanzania, chamada Karatu, próxima a caldeira de um lindo vulcão, chamado Ngorongoro, razão pela qual estávamos lá.

Logo ao chegar um pastor gentilmente nos acompanhou até o hotel nos mostando o lado gentil e acolhedor dessa pequena cidade, onde passamos vários dias em busca de um grupo que pudesse dividir os custos de um tour para o tal do vulcão.

Logo que chegamos, estávamos passeando pelas ruazinhas da deliciosa cidade, quando dois garotos nos param na rua para vender colares e pulseiras feitos por suas mães e avós, uma cena comum nessas regiões mais turísticas. Mas algo completamente inusitado nos surpreendeu, o Charles. Um garoto de aproximadamente 10 anos que além de carismático, falava inglês fluente, e quando ficou sabendo que éramos do Brasil começou a falar em espanhol fluente.

Numa região bastante pobre, onde as oportunidades são poucas e as condições da educação precárias, a inteligência e perspicácia desse menino realmente nos chamou atenção. A maioria dos meninos de sua idade também vendem colares e pulseiras para complementar a renda familiar, mas em sua maioria mal falam inglês e acabam apelando com algumas mentiras para sensibilizar os turistas e vender seus produtos. Arte que infelizmente acabam aprendendo desde cedo por necessidade.

Mas o Charles é diferente, ele se destaca em meio as outras crianças e na hora de vender, ele não apelou em nenhum momento, foi sincero e negociou. No fim acabamos comprando o colar, porque gostamos muito dele, mas combinamos que a partir daquele momento não seríamos mais clientes, mas sim amigos. Ele topou.

Charles, aprendeu inglês e espanhol fluentes, algumas palavras em italiano e alemão conversando com turistas. Ele está no colégio, mas disse que não aprende muito por lá, o que gosta mesmo é de jogar futebol e conhecer pessoas. Seu sonho é ser guia em safaris e com a grande facilidade em aprender idiomas e seu carisma, parece um futuro promissor.

No fim da tarde quando voltávamos da nossa caminhada pela cidade, Thomas dizia: "de repente poderíamos pedir ao Charles que nos ensine um pouco de Kiswahili (o idioma local)" e logo encontramos com ele de novo, fizemos a proposta e ele topou na hora.

Fomos para um gostoso café e lá começamos nossas aulas, enquanto nosso jovem professor tomava seu copo de leite morno, cena que se repetiu por todos os dias que estivemos por lá, um dia ensinávamos português e no outro aprendíamos Kiswahili, enquanto conversávamos sobre a vida.

Um dia Charles estava caminhando com a gente na rua e pediu para andar de mãos dadas comigo, todo mundo ficava olhando. Ele ele me disse que estava fazendo isso porque queria ser visto com uma mulher branca para ter a possibilidade de casar com uma, quando chegar sua hora.

Os dias passaram na pequena cidade de Karatu e mais nos enamorávamos de lá. Pessoas muito especiais nos mostraram a hospitalidade e a afetividade Tanzanianas, num dia fomos almoçar na casa da Winnie, a garçonete que nos atendia no café, no outro fomos fazer uma trilha pelas montanhas, organizada por uma generosa mulher que tem um hotel na cidade e uma organização para apoiar mulheres da região. E claro, as nossas aulas de Kiswahili nos finais de tarde.

Visitamos a caldeira do vulcão de Ngorongoro, que é um grande vale que fica no lugar do vulcão após o seu colapso. É um lugar maravilhoso, coberto por uma natureza exuberante. Nos deliciamos assistindo aos leões tomando sol e se escondendo embaixo dos carros de safari, completamente a vontade com a dezena de carros que os cercavam, testemunhamos um hipopótamo sair da água durante o dia, cena muito rara, observamos as hienas se alimentando no rio, os bufalos tomando sol com as '(wild beasts)' e terminamos nossa tarde visitando uma vila Massai, dançando com seus habitantes e ouvindo histórias de sua cultura e suas tradições.

No último dia resolvemos visitar a região mais ao norte, onde tem um projeto da igreja anglicana que o pastor Samuel, que conhecemos em nosso hotel, gentilmente nos convidou para conhecer. Além do projeto, fomos conhecer os 'bushman', nômades que vivem como a milenios atrás, em pequenos bandos sobrevivendo de caça e coleta. Mas o que parecia pura gentileza do pastor e seu filho, por nossa confiança e ingenuidade, foi no fim uma arapuca de turista que infelizmente tirou um pouco o encanto de nossa experiência.

Mas o melhor de tudo foi conhecer o Charles que apesar de muito cedo já precisar trabalhar para complementar o orçamento familiar, continua sonhando e aproveitando as oportunidades que a vida lhe dá chegar mais perto de seus sonhos. Mais do que Kiswahili, ele nos ensinou sobre a vida e sobre o poder de sonhar, e com seu carisma, sinceridade e curiosidade cativou nossos corações.

Obrigada querido Charles, que Deus sempre te abençoe com tudo aquilo que precisa para realizar seus sonhos e ser feliz.

Narjara

 

quinta-feira, 3 de maio de 2012

Caminhos da alma

Três meses de viagem e sinto dentro uma ansiedade brotando, ansiedade que brota das contradições entre a alma e o ego, dos diferentes tempos que vivo e dos conflitos entre deixar ir e as inseguranças do vazio

Observo emails, movimentos no facebook, vejo a vida acelerada ao meu redor... projetos, mudanças, conquistas, pessoas nascendo, pessoas queridas partindo... sou parte de tudo isso, me sinto ligada a tudo isso, ao mesmo tempo me sinto tão distante, como uma observadora da janela de um trem que passa seguindo em direção a um horizonte distante.

Parte de mim queria viver e compartilhar de tudo isso, e outra parte queria estar exatamente onde está, ah contradições da alma que as vezes não sabe escolher, tão contrataditório assim é o meu ser. A razão se preocupa com que pensam e esperam de mim, o que deveria estar fazendo para pertencer, a alma tranquiliza és parte de todos e todos são parte de ti, não há separação, confia em ti.

Estou vivendo um outro tempo num outro espaço da minha existência, um tempo devagar quase sem pressa do lado de fora, um tempo acelerado e intenso do lado de dentro, e como só existe um lado, o de dentro, ambos os tempos se misturam num tempo sem tempo, difícil de entender e mais ainda de explicar... alguns dias quase infinito e outros menos que um pestanejar.

E dentro de mim a batalha constante entre a alma e o ego para vencer as inseguranças de voltar para meu antigo mundo e não mais me encaixar no mar que navegava, a batalha para confiar em quem eu sou, nas escolhas que fiz, em minha refinada intuição, independente de reconhecimentos ou aceitações externas.

Muito mudou dentro de mim e talvez meu barco já não caiba nos mares que navegava mesmo, e por quais caminhos navegará?

Meu coração sabe o caminho, sabe como navegar novos mares, não dúvida nem teme. Ele é, confia, vive hoje e se nutre para alimentar a futura jornada. Meu ego teme, teme pelo barco que já não navega em mares conhecidos, teme que fique perdido no desconhecido e já não se encontre mais.

E eu, sigo navegando pelos mares desconhecidos pela razão, mas já muito conhecidos pela alma, trilhando os caminhos de significado e deixando para trás as bagagens que já não cabem no navio, me fortalecendo para desbravar as novas trilhas e enfrentar os possíveis dragões.

As vezes os caminhos da alma contradizem a lógica, contradizem as expectativas a nossa volta, mas como não se entregar para os caminhos da alma?

Com amor,

Narjara


 

A mudança e a evolução

Hoje me dei conta de algo importante e vou contar uma história para ilustrar.

Estava lendo um capítulo de um livro sobre a Sociologia do Islã, em que o autor se dá conta da importância das migrações dos povos na história da humanidade. Ele fala que todas as civilizações foram fundadas por um povo que migrou do seu lugar de origem para um outro lugar e lá deu origem a nova civilização. 

Fiquei refletindo sobre isso e de repente me dei conta de algo importante. Estamos num hotel simples num bairro bem gostoso do Cairo, Zamalek. Quando chegamos aqui, tínhamos reservado um quarto com banheiro, um banheiro apertadinho, com um chuveiro que não funcionava direito, uma varanda, tv e ar condicionado.

Dois dias depois resolvemos mudar para um quarto mais barato para economizar, o quarto só tinha um ventilador e um pia bem pequenina. Sentimos muito a diferença e ficamos incomodados em ter que se trocar e sair do quarto para usar o banheiro e tomar banho.

Uma semana depois, hoje eu fui tomar banho e me dei conta de que estava super confortável e até curtindo. Aí lembrei de quando chegamos em Kufunda Village no Zimbabwe, nosso banheiro era o mato e tomávamos banho de canequinha, e com água quente só se tivesse energia elétrica. No começo foi bem desconfortável, mas depois de uma semana estávamos bem e quando saímos de lá viajando pelo Zimbabwe, em condições bem piores, eu sentia falta do mato de Kufunda e do chuveiro de canequinha.

Me dei conta do quão rápido nos acomodamos as diferentes situações de nossas vidas, sejam elas boas ou ruins. Depois de um tempo nos adaptamos as situações e elas passam a ser nosso território conhecido, nossa zona de conforto.

Por um lado isso mostra nossa resiliência como seres humanos, mas por outro também mostra nossa tendência a estagnação, sem nem mesmo nos darmos conta. Estar na mesma situação por muito tempo vai criando mais resistência para mudança, quanto mais nos acostumamos, mais resitentes ficamos e menos resilientes também.

Aí fiquei refletindo sobre o papel da mudança dos povos que fizeram possível o nascimento das civilizações e dos quarenta anos que moisés passou no deserto para que uma geração inteira de escravos morresse, para que a nova geração pudesse fundar o povo de Israel. Porque o nascimento dessas civilizações não foi possível em seus lugares de origem? O que a mudança de lugar pode ter provocado de mudança na sociedade que possibilitou tal feito, que antes não era possível?

Qual a dosagem de mudança que precisamos na vida para nem estagnar e nem deixar de viver com a profundidade suficiente para criar raízes nas experiências que temos?

Essas são perguntas que estou me fazendo, sem chegar a nenhuma conclusão, a não ser que mudanças fazem bem para oxigenar o corpo e a alma, sacudir um pouco do pó que acumulamos e para renovar nossa visão de mundo com diferentes perspectivas, necessárias para evoluirmos em nossa jornada na vida.

Lembrei também do bambu como um equilíbrio perfeito entre estabilidade e resiliência, pois cria suas raízes e se mantém flexível na superfície para não romper com os ventos da vida.

Namaskar,

Narjara

 

quarta-feira, 2 de maio de 2012

Um sonho despedaçado e o despertar para o presente

Lembro-me até hoje das tardes que passei imaginando como seria a grande civilização egípcia. Tinha um grande sonho de menina de conhecer o Egito, entender seus faraós, descobrir seus deuses, desfrutar de suas pirâmides e mergulhar nos grandes mistérios ainda pouco desvendados dessa civilização que encantou o mundo.

Mas além do sonho, algo além me chamava até aqui. Uma força magnética, mística, uma vida passada quem sabe, ou o próprio mistério de um sonho para mim inexplicável e desconhecido. E quando descobri que meu nome tinha origem nessa região, as asas da minha imaginação cresceram e voaram mais longe.

Já não sei distinguir se era sonho ou ilusão, porque a aura dos mistérios Egípcios cativaram minha imaginação, assim como o meu coração em busca por aventuras nos desconhecidos mistérios da alma de uma civilização há muito perdida e jamais esquecida, em busca por algo místico, por entender os mistérios da alma humana, descobrir nosso passado e revelar nossas origens. Hoje vejo que vim busca de mim mesma, da minha história, da descoberta de quem eu sou e de quem eu fui.

Uau, essa é uma grande responsabilidade para um país tão pequeno em tão pouco tempo que vim passar aqui. Parte consciente, parte inconsciente eu estava cheia de expectativas, que como sabiamente diz meu grande professor Humberto Maturana, não se cumprem.

Chegamos ao Cairo num sábado a tarde, uma sensação esquisita pairou sobre mim, como se nada que estivesse vivendo fosse real, aquela sensação de que estamos sonhando acordados, como se ao pisar aqui, entrasse no meu sonho de menina.

O aeroporto estava vazio, uma calma que parecia irreal para um país que basicamente sobrevive do turismo. Algo estranho no ar ou no meu olhar? Talvez no encontro entre o meu olhar e o ar que paira no Cairo nesse momento de sua história.

Os dias passaram e nós fomos conhecer o que restou dessa grande civilização, imagens desenhadas, textos escritos, jóias, múmias, estátuas e construções magníficas em lugares repletos de história e beleza. Lugares onde a areia do deserto se eleva em construções perfeitamente desenhadas, onde o silêncio do deserto e o mistério do passado permanecem de mãos dadas no sopro do vento, uma história já há muito perdida pela desconstrução do próprio tempo ou pela intervenção humana. O silêncio do tempo quebrado por muitas de pessoas te perseguindo em busca de alguns trocados.

Os trocados roubados das formas menos nobres possíveis, mentiras e manipulações com o objetivo de te desviar do seu percurso para o percurso onde alguém ganha uma comissão com isso "o múseo está fechado, não quer conhecer o múseo de papyro (vulgo loja)", "o parque das pirâmides é muito grande vocês precisam fazer a camelo", guardas que deveriam te proteger pedindo dinheiro em todos os lugares, inclusive para entrar em lugares públicos, chegando até ao cúmulo de me trancarem num banheiro para ganhar uns trocados em retorno. Desespero ou mau caráter?

Realmente não consegui entender se está assim pela baixa no turismo ou se é assim, mas pelo que o livro que estamos lendo e as pessoas falam, é assim e sempre foi.

Definitivamente minha experiência como turista no Cairo foi uma decepção. Me senti bastante usada e no fim já não consegui mais confiar em ninguém que tivesse algum interesse monetário na relação com a gente. Não demorou muito para eu descobrir que minhas fantasias de conhecer a civilização egípcia não passavam de uma ilusão de menina.

Essa ilusão do sagrado e do místico na verdade só existe hoje na imaginação e no olhar das pessoas que visitam aqui. A civilização alcançou grandes feitos, muitos deles até hoje permanecem um mistério, mas eles eram uma civilização como outra qualquer, com suas conquistas e seus desafios, com uma grande idolatria centralizada na figura do Faraó, para onde a maior parte da energia e do trabalho do povo era canalizado. Um povo que expressou a grandeza de suas descobertas em construções magestosas, que inventou a escrita para registrá-las e que gostava tanto da vida que se tornou obsecado na preparação de seus mortos para a vida eterna. E por tudo isso, seus feitos venceram o tempo e nos trouxeram um pouco de como era a vida na primeira grande civilização desse planeta.

Mas hoje para o Egito seu glorioso passado é um motivo de orgulho e sua maior fonte de renda, nada mais pelo que vivi aqui. A tristeza tomou conta de mim, algo morria, talvez a maior de todas as ilusões que eu tinha, uma idealização de um passado onde tudo era perfeito, um passado que pudesse trazer soluções e conhecimentos para o futuro, um passado que pudesse me ajudar a descobrir quem sou.

Quando minha ilusão morreu pude ver o presente e realmente entender na pele que o passado já não é, é apenas o que carregamos dele no presente, e o futuro também ainda não é, é apenas o que carregamos dele no presente. Me sinto mais leve, já não preciso descobrir quem fui e consegui me despir das expectativas de quem serei, posso simplesmente ser, e o que realmente importa é quem eu sou e como eu vivo hoje.

É libertador quando descobrimos nossas ilusões e mais ainda quando podemos deixá-las ir, mas a experiência nem sempre é fácil, pois as vezes estamos tão identificados com algumas ilusões que elas passam a fazer parte da nossa carne e de quem achamos que somos. Disse adeus para o Egito da minha imaginação e boas vindas ao Egito como ele é, e aí pude desfrutar.

 

Despertando a cada dia,

Narjara


 

The Green House Project

In the middle of downtown Johannesburg, the most violent city in the world, resids the most violent district of the city, with a high rate of homelessness, HIV, iliteracy, unemployment, and as a consequence, violence, prostitution and drugs.

This is the district where people who arrive from all over Africa looking for a better life first stop. People come from all over with the ilusion they can have a better life in the city, but when they arrive there, things are not the way they thought it would be. Jobs are not enough and there are not many ways to survive without a job in the city, unless you steal, prostitute, beg or traffic drugs, which many people choose to do when they end up not being able to live a decent life, neither affording to go back home.

Well, in the middle of all that we found an Oasis called the Greenhouse Project, right in the northwest corner of Joubert Park. When you enter the place, it feels like going into a bubble of peace in the middle of the chaos and the violence of the city centre.

The Green House Project started with the dream to create a holistic approach to environmentally friendly city living by empowering the community around to build it together, and since it started it has been chaging and improoving not only the lives of people and the community around, but also have been inspiring many other communities and projects all over Africa.

The project offers a space in the city, where anyone can see and learn that it is possible, even in unfavorable conditions, to create a environmentally friendly city living. It is possible to find the solutions we need for about anything, if we work together and use our potential. It is possible to have a way of life that is more sustainable and connected to nature , even in the city.

Most of the people who came from the rural areas have once grown their food, build their houses, fetched water, delt with waste. They had the resources and the abilities they need to make their living, but when they come to the city, since the land is now a bunch of concrete building with hardly any space to plant nor clean water available to fetch, they need to buy everything from the markets in order to survive. The abilities they had are no longer usefull here, and now they have to find a way to learn new skills to be able to find a job.

But who says so?

Here, there is a space for people to develop and find a dignified and sustainable way of living for themselves, their families, the community, as well as the planet, using their abilities. In order for that to happen the project works empowering people to realize that they always had the knowledge they needed, and creating a space for people to use and develop their own talent. It also makes possible for anyone to develop other abilities working in different projects, and help them to learn how to use the knowlegde to make an income in harmony with nature.


The solutions they are developing goes from planting organic food, recycling and selling the garbage, managing and composting waste, building eco-friendly buildings and working on solar energy.

But most impressive of all, is that the Greenhouse project is just a showcase, a reference center. Their main purpouse is to spread their knowledge to other communities and NGOs. They cultivate a rich network of relationships, and offer opportunities for its members to exchange experiences and learn together.

When we arrived, we were more than welcomed and had a wonderful time listening to the stories, challenges and results of the green house project. We walked around and experienced the smells of the organic gardens, felt the hard work to sell recycable garbage, heard the noises of the ongoing construction of a rammed earth building, which will be enable the expansion of not only this project, but also the many possibilities for the communities' project. 

It was wonderful to feel the power that a commited group of people have to change the world around them when they really believe, have the intension and work hard together. It was so inspiring for our lives as much as it was for our life project when we get back home. Hope it will be for some of you as well.

I made a video of our visit, if you want to know more about the project, they still don't have a website, but we can watch the video at http://youtu.be/nUPifCztwTw

Narjara and Thomas