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segunda-feira, 11 de junho de 2012

Monte Sinai - A jornada e não o destino

Há algumas semanas estivemos na península do Sinai, no Egito. Um lugar mágico, cortado por montanhas rochosas e regado pelo mar vermelho, compondo uma paisagem exótica e inesquecível.

Mergulhamos nas águas verde-azuladas do mar vermelho, descobrindo a vida colorida que reside em suas entranhas e a tranquilidade que habita o silêncio do profundo oceano. Desfrutamos da gentileza dos habitantes de uma pequena cidade na costa, Dahab, e fomos desvendar os mistérios do Monte Sinai, que há milênios atrai peregrinos e curiosos do mundo todo, para visitar o lugar sagrado onde Moisés recebeu as leis de Deus, enquanto conduzia a tribo de Israel pelo deserto do Egito para a terra prometida.

Essa foi uma travessia que durou quarenta anos, quarenta anos de completa entrega ao desconhecido, fé em Deus e muitos desafios físicos que causaram a morte de toda a geração de escravos que saiu do Egito e nunca chegou a terra prometida, mas que permitiu que seus descendentes que nasceram livres, fundassem uma nova nação livre

Estudiosos não tem certeza se foi essa montanha, mas por milênios esse lugar recebe peregrinos que depositam sua fé, esperança, seu amor e gratidão aqui, fazendo desse lugar para lá de especial, um espaço de cura incrível e de reconexão com o Divino que existe em cada um de nós.

Quando chegamos, eu não imaginava o que me esperava. Pensei que fossemos simplesmente fazer uma trilha e desfrutar do pôr-do-sol em cima da montanha sagrada, mas foi só começar a caminhada que essa força espiritual tomou conta de mim e um intenso processo de purificação começou a acontecer.

Quando me dei conta disso, coloquei minha intenção em fazer uma caminhada de purificação e desapego. Eu acredito, assim como algumas linhas espirituais, que quando colocamos energia e esforço para alcançar um objetivo ou uma intenção, ele se concretiza e foi isso o que fiz.

A cada passo que dava, entregava minha dor, a cada degrau que subia deixava ir minhas inseguranças, a cada inspiração me conectava com Deus, me abrindo para receber suas bençãos de fé e confiança, que precisava para seguir caminhando.

Durante a caminhada me dei conta que estava projetando meu centro e minha referência para fora de mim, como fiz durante muito tempo da minha vida, colocando minha felicidade dependente de fatores e pessoas externos.

Tive acesso ao sentimento de eterna falta que esse deslocamento de centro e referência geravam, fazendo com que muitas vezes me sentisse menos, e causando a ilusão de que o reconhecimento externo poderia preencher esse vazio; o que deslocava de mim a possibilidade de minha própria completude e felicidade, e me tornava dependente do reconhecimento e do amor externos para que me amasse e me reconhecesse.

Como manter meu eixo se o ponto de referência está fora? me perguntei.

Conclui que não é possível, a não ser que me movimente em função desse eixo me tornando dependente dele, ou então me desequilibre, como estava acontecendo.

Segui caminhando, inspirando, expirando, me perguntando a serviço de que projetei esse eixo para fora de mim. E ao mesmo tempo fui permitindo que esse eixo voltasse para o meu próprio centro.

E nesse processo me dei conta que muitas vezes coloquei esse eixo fora por amor; por amar tanto, que o sujeito amado, seja ele uma flor, um animal, um mestre, um amigo ou um companheiro, se torna mais importante do que eu mesma, passando a servir como um espelho de tudo aquilo de melhor que há em mim e que agora desloquei de mim projetando nele.

Foi aí que me dei conta que desapegar, deixar ir quem amamos de dentro de nós é talvez um dos maiores atos de amor por nós mesmos e por quem amamos, e talvez só assim sejamos capazes de amar de verdade.

Entendi que se estamos 'apegados' a quem amamos, acabamos aprisionando a nós mesmos e ao sujeito amado a nossa própria concepção de amor, as nossas expectativas e projeções. Acabamos enxergando ao nosso próprio ideal de amor e a nós mesmos refletidos no outro, ao invés de enxergá-lo por quem realmente é.

Quando cheguei ao topo, cansada e feliz por ter entrado na profundidade de minha dor, entrei numa meditação de pura conexão com Deus e com a natureza ao meu redor, repondo minhas energias e me alimentando de luz, amor e gratidão para iniciar um novo ciclo de vida.

E assim como o sol foi se pondo, encerrando mais um dia, eu fui descendo a montanha, encerrando um ciclo de vida, deixando sair meus apegos, a dor, as inseguranças e o vazio que eles causaram, para assim como um novo dia que nasce, parir um novo ciclo de vida, criando espaço interno para que esse vazio seja preenchido por meu próprio amor e consciência.

Assim como Moisés, que levou quarenta anos para cruzar o deserto, mais que o tempo necessário para essa cruzada, mas o tempo justo que levou para que o povo escravo de Israel deixasse a escravidão para trás e encontrasse a verdadeira liberdade e a terra prometida dentro de si mesmos, antes que pudessem fundá-la fisicamente. Eu fui subindo o Monte Sinai, deixando ir velhos padrões limitadores e junto com eles a ilusão de que a terra prometida estava fora de mim, para que um novo ciclo de vida possa emergir permitindo que eu encontre a terra prometida dentro, e então possa materilizá-la fora.

Por isso reforço aqui que o sentido da vida é a jornada que percorremos e não o destino onde chegamos. Na jornada mora o agora, e no agora abrem-se infinitas possibilidades de escolhas a cada passo, é na jornada que escolhemos todos os dias que direção vamos seguir e como vamos seguir. E sigo com a pergunta: O que é que cada um de nós precisa deixar ir para encontrar a 'terra prometida' dentro de si para que possamos materializá-la fora de nós, num mundo justo, pacífico, amoroso e feliz?

Com amor,

Narjara