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segunda-feira, 7 de maio de 2012

Charles

Fomos visitar uma pequena cidade na Tanzania, chamada Karatu, próxima a caldeira de um lindo vulcão, chamado Ngorongoro, razão pela qual estávamos lá.

Logo ao chegar um pastor gentilmente nos acompanhou até o hotel nos mostando o lado gentil e acolhedor dessa pequena cidade, onde passamos vários dias em busca de um grupo que pudesse dividir os custos de um tour para o tal do vulcão.

Logo que chegamos, estávamos passeando pelas ruazinhas da deliciosa cidade, quando dois garotos nos param na rua para vender colares e pulseiras feitos por suas mães e avós, uma cena comum nessas regiões mais turísticas. Mas algo completamente inusitado nos surpreendeu, o Charles. Um garoto de aproximadamente 10 anos que além de carismático, falava inglês fluente, e quando ficou sabendo que éramos do Brasil começou a falar em espanhol fluente.

Numa região bastante pobre, onde as oportunidades são poucas e as condições da educação precárias, a inteligência e perspicácia desse menino realmente nos chamou atenção. A maioria dos meninos de sua idade também vendem colares e pulseiras para complementar a renda familiar, mas em sua maioria mal falam inglês e acabam apelando com algumas mentiras para sensibilizar os turistas e vender seus produtos. Arte que infelizmente acabam aprendendo desde cedo por necessidade.

Mas o Charles é diferente, ele se destaca em meio as outras crianças e na hora de vender, ele não apelou em nenhum momento, foi sincero e negociou. No fim acabamos comprando o colar, porque gostamos muito dele, mas combinamos que a partir daquele momento não seríamos mais clientes, mas sim amigos. Ele topou.

Charles, aprendeu inglês e espanhol fluentes, algumas palavras em italiano e alemão conversando com turistas. Ele está no colégio, mas disse que não aprende muito por lá, o que gosta mesmo é de jogar futebol e conhecer pessoas. Seu sonho é ser guia em safaris e com a grande facilidade em aprender idiomas e seu carisma, parece um futuro promissor.

No fim da tarde quando voltávamos da nossa caminhada pela cidade, Thomas dizia: "de repente poderíamos pedir ao Charles que nos ensine um pouco de Kiswahili (o idioma local)" e logo encontramos com ele de novo, fizemos a proposta e ele topou na hora.

Fomos para um gostoso café e lá começamos nossas aulas, enquanto nosso jovem professor tomava seu copo de leite morno, cena que se repetiu por todos os dias que estivemos por lá, um dia ensinávamos português e no outro aprendíamos Kiswahili, enquanto conversávamos sobre a vida.

Um dia Charles estava caminhando com a gente na rua e pediu para andar de mãos dadas comigo, todo mundo ficava olhando. Ele ele me disse que estava fazendo isso porque queria ser visto com uma mulher branca para ter a possibilidade de casar com uma, quando chegar sua hora.

Os dias passaram na pequena cidade de Karatu e mais nos enamorávamos de lá. Pessoas muito especiais nos mostraram a hospitalidade e a afetividade Tanzanianas, num dia fomos almoçar na casa da Winnie, a garçonete que nos atendia no café, no outro fomos fazer uma trilha pelas montanhas, organizada por uma generosa mulher que tem um hotel na cidade e uma organização para apoiar mulheres da região. E claro, as nossas aulas de Kiswahili nos finais de tarde.

Visitamos a caldeira do vulcão de Ngorongoro, que é um grande vale que fica no lugar do vulcão após o seu colapso. É um lugar maravilhoso, coberto por uma natureza exuberante. Nos deliciamos assistindo aos leões tomando sol e se escondendo embaixo dos carros de safari, completamente a vontade com a dezena de carros que os cercavam, testemunhamos um hipopótamo sair da água durante o dia, cena muito rara, observamos as hienas se alimentando no rio, os bufalos tomando sol com as '(wild beasts)' e terminamos nossa tarde visitando uma vila Massai, dançando com seus habitantes e ouvindo histórias de sua cultura e suas tradições.

No último dia resolvemos visitar a região mais ao norte, onde tem um projeto da igreja anglicana que o pastor Samuel, que conhecemos em nosso hotel, gentilmente nos convidou para conhecer. Além do projeto, fomos conhecer os 'bushman', nômades que vivem como a milenios atrás, em pequenos bandos sobrevivendo de caça e coleta. Mas o que parecia pura gentileza do pastor e seu filho, por nossa confiança e ingenuidade, foi no fim uma arapuca de turista que infelizmente tirou um pouco o encanto de nossa experiência.

Mas o melhor de tudo foi conhecer o Charles que apesar de muito cedo já precisar trabalhar para complementar o orçamento familiar, continua sonhando e aproveitando as oportunidades que a vida lhe dá chegar mais perto de seus sonhos. Mais do que Kiswahili, ele nos ensinou sobre a vida e sobre o poder de sonhar, e com seu carisma, sinceridade e curiosidade cativou nossos corações.

Obrigada querido Charles, que Deus sempre te abençoe com tudo aquilo que precisa para realizar seus sonhos e ser feliz.

Narjara

 

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