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terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Sobrevivência (18/02/12)

Na luta pela sobrevivência, as vezes esquecemos quem somos e o que viemos fazer e a única coisa que fica presente é a sobrevivência. É difícil entender isso pra muitos de nós que nunca precisamos viver isso... me toca a fortaleza interna dessas pessoas que apesar de tudo não sucumbem.

Lembro-me de um garoto que me apresentou sua casa, numa favela em Soweto. Era uma casa de um único cômodo, teto para seis mulheres, entre primas e irmãs, para quem ele gentilmente deixou a casa para que tivessem mais privacidade.

A luz é um "gato" improvisado com fios passando pela casa toda e o banheiro, assim como água corrente, são inexistentes. Para ir ao banheiro é preciso sair, fora das casas tem alguns banheiros públicos que parecem uma caixa, que nem os banheiros de show. E para pegar água, mulheres e crianças com extrema habilidade e equilíbrio colocam os baldes d'água da bica em suas cabeças e levam pra casa.

Esse garoto não conseguiu terminar o colégio, porque precisou dar um jeito de sobreviver e quando não tem visitas de turistas que lhe dão gorgetas, ele carrega lixo reciclável para vender. Sua vergonha, eu imagino, lhe impediu de me dizer que não tinha completado o colégio, ao


em vez disso, me disse que estava começando a universidade, e me perguntou olhando nos olhos: "Você seria capaz de sobreviver assim?"

Um tapa na cara que me fez refletir muito, e a minha primeira resposta foi: "Acho que não!"

Então ele me disse: "pra sobreviver aqui, eu uso a cabeça."

Poxa, eu pensei, se vivesse nessas condições certamente me adaptaria, sou humana e tenho inteligência também. Mas, será que só basta a inteligência pra sobreviver em condições extremas?

Algo me diz que as emoções tem um papel fundamental em tudo isso. As nossas emoções muitas vezes acabam controlando nossas mentes, nos fazem agir de um jeito que racionalmente não queremos, mexem com nosso sistema imunológico, enfim... pensei que talvez se eu passasse a viver numa situação como aquela nesse ponto da minha vida seria mais difícil cuidar das emoções para sobreviver bem.

Qual será o controle emocional diário necessário para sobreviver em situações de miséria extrema? Ou em situações de sofrimento e dor extremas?

Lembro-me de ler num dos livros de Victor Frankl que numa pesquisa sobre o motivo pelo qual algumas pessoas sobreviveram ao elevado grau de estresse que foram os campos de concentração no holocausto, descobriu-se que um ponto em comum foi que eram guiadas por um sentido maior para a vida e para a experiência que estavam vivendo, seja um dia rever a família, ou uma religião, ou qualquer outra coisa.

Um sentido maior realmente me parece algo que fortaleceria alguém para passar por situações difíceis e sobreviver, mas também acho que tem um instinto humano para manter a vida e sobreviver e as vezes esse fala mais alto que qualquer outra coisa, porque quando se está com fome talvez seja mais difícil acessar um sentido maior do que a própria sobrevivência. Será?

Qual será esse sentido ou esse instinto que faz com que esse garoto e muitas outras escolham a vida e encontrem força pra trabalhar?

O que faz a cada um de nós escolher a vida todos os dias?

Vivendo mais um dia,

Narjara


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