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terça-feira, 6 de março de 2012

A infância Zimbabweana

o sol aparece no horizonte, as crianças levantam e começam a trabalhar, pois logo terão que caminhar pra escola. O som dos baldes, da água correndo, do soar da vassoura e das panelas batendo faz parte do nosso despertar todos os dias.

Com agilidade e energia, as meninas lavam roupas e ajudam a mãe no café da manhã, enquanto o garoto cuida do bebê, carregando ele em seus braços pra cima e pra baixo pra distrair-lo enquanto as mulheres trabalham.

Infelizmente a infância não é como nos sonhos para a maioria das famílias no Zimbabwe e provavelmente em muitos outros lugares na África e no mundo. E isso, não é porque os pais são 'malvados', mas sim porque com a pouca infra-estrutura, número elevado de pessoas por família e com o salário pequeno que ganham, realmente precisam da ajuda de todos pra fazer a família funcionar bem e sobreviver.

Já são quase sete horas e as crianças já estão uniformizadas e junto com mais crianças da comunidade caminham por volta oito kilometros pra ir pra escola, todas as manhãs. O silêncio paira, mas posso ver o cansaço nos olhos das crianças e também uma certa alegria em ir pra escola, eu imagino que deve ser bem gostoso estar num grupo de crianças indo juntas, além de também ser um tempo fora do trabalho doméstico.

Não consigo conversar com elas, pois não falam inglês, então sorrio, me aproximo e digo oi. Algumas vezes ganho um sorriso de volta, outras acho que estão cansadas e sérias demais trabalhando pra me dar um sorriso... mas o mais gostoso, é quando ficam curiosas com o que estou fazendo, e percebo seus olhares me observando. Me dá uma vontade louca as vezes de dar um abraço, pegar no colo, contar histórias...

Já são por volta das três da tarde, e lá vem as crianças de volta, mais oito kilometros de volta, pegam o irmaozinho bebe com a mãe no trabalho e começam o trabalho para preparar o jantar, enquanto a mãe, que trabalha como doméstica não chega. Lavam roupa, louça, limpam o chão, o banheiro, cuidam do irmão e de vez em quando, entre uma atividade e outra, brincam uns com os outros.

São três irmãos e uma prima, cuja mãe morreu quando era bem pequena, e agora mora com a tia e os primos. A prima é a mais velha, com dez anos, o bebe está com quatorze meses. Quando a mãe chega eles preparam o jantar juntos, comem, lavam a louça e vão descansar para o próximo dia.

O pai deles vem de vez em quando, acho que ele trabalha em outra cidade. Quando ele vem, em alguns finais de semana, as crianças dormem no hall entre nossos quartos, para que os pais tenham privacidade. Aíiii, que chão gelado... dormem em cima de uma manta fina.

O chuveiro do banheiro não funciona, então os banhos são a canecas com água esquentada, a privada é fora da casa, um banheiro seco, que não está bem cuidado, e portanto cheio de moscas e mão cheiroso. O lixo orgânico fica ao lado da casa para compostar e o resto do lixo é queimado quando junta-se uma determinada quantidade.

A comida é preparada do lado de fora da casa, com a família toda junta, um epaço improvisado para fogueira, as crianças pegam gravetos todos os dias para fazer fogo, as panelas vão em cima de uma pequena grade e logo o cheirinho bom de comida e a fumaça da fogueira podem ser sentidas por toda casa.

Aqui, assim como eles, as pessoas comem com as mãos, talherem são um luxo que nem todos podem se dar, todos sentam no chão e comem juntos, exceto quando o pai está presente, ele é o único que senta-se a mesa.

Uma família de ratos, divide a mesma casa com a gente, ocupam principalmente o telhado. Isso é bem comum em todas as casas por aqui, ficamos em desespero no começo, mas agora já mais tranquilos.

Em muitas manhãs, nossa visinha, super mãe de família, com todas as atribuições que tem, ainda cuida de nós deixando um balde de água quente sobre a fogueira para o nosso banho... isso facilitou nossa vida demais, porque a panela que temos pra esquentar água é bem pequena e o fogão elétrico. Agora nossos banhos estão quentinhos. :) Com as condições do banheiro, adotamos o mato como nosso banheiro, e nos dias que estivémos doentinhos com diarreia, foi uma correria de ir pro mato toda hora... rs

Fico imaginando o que significa ser criança aqui, com toda a responsabilidade que carregam desde pequeninos. Com certeza tem diferentes cores das cores que tiveram a minha infância, quais serão essas cores que formaram o futuro desse país?

Refletindo e com saudades,

Narjara

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