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domingo, 15 de abril de 2012

O que é uma lotação lotada?

Lembro das nossas viagens pelo interior do Zimbabwe enlatados em um matatu ou daladala ou kombi - diversos nomes que dão para as vans (famosas "lotações" que circulavam por São Paulo alguns anos atrás).

Esse parece ser um dos aspectos comuns de todos os países da África que passamos até agora: o principal meio de transporte são essas latas velhas entupidas de gente. Nos centros urbanos os matatus são um enxame, um monte de vans por todos os lados, cortando uma as outras, buzinando, com pessoas penduradas pelas janelas gritando o destino para onde vão.

Mas no Zimbabwe fiquei impressionado. Percebi que a pergunta "O que é uma lotação lotada?", não tem uma resposta clara. Ao entrarmos no matatu pudemos ver claramente uma frase escrita na lateral: "Lotação máxima 15 pessoas". Claro, faz sentido, são 5 fileiras de bancos para 3 pessoas cada, tranquilo. Sentamos no último banco e até tínhamos espaço para colocar os nossos mochilões no terceiro acento livre.

A cada parada mais gente entra, e logo vem a primeira surpresa: levamos bronca do cobrador pois devem sentar 4 pessoas por fileira. O fato de ficarmos sentados entre dois assentos, com uns ferros desconfortáveis na bunda não parece importar muito. Nessa altura já estávamos com os mochilões enormes no colo, com as alças na nossa cara a suando como em uma sauna. Todos os bancos estavam com quatro pessoas esmagadas, algumas com bebês ou sacos cheios de tranqueiras colo. Agora a lotação esta lotada, certo? Próxima parada o cobrador abre a porta, e mais gente quer entrar... como assim?!? Mas isso é a África, e sempre cabe mais um. Tudo bem se ele tem que ficar de pé, com o pescoço torcido contra o teto, e o sovaco na cara da pessoa sentada ao lado (olha que o pessoal não usa desodorante aqui).

Faço as contas, deve ter umas 25 pessoas dentro do matatu, mas é impossível contar todos nesse emaranhado de braços, cabeças, bebês, cachos de banana, sacos plásticos enormes, melancias etc. A música estridente no último volume (sempre ritmos dançantes, bem africanos), nos deixa quase surdos, mas faz parte do clima. Olho pela janela e vejo mais uma moto desviando da gente no acostamento... parece que nas ultrapassagens também vale a lei do mais forte aqui.

E assim seguimos chacoalhando pelas ruas esburacadas, em meio a vilas de cabanas de palha e paisagens lindas... E com isso aprendi mais uma coisa: não existe lotação lotada.

Thomas

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